O Natal é um período que toca o coração das pessoas, trazendo sentimentos de leveza e emoção. Para muitos, é uma época de recordações e saudades. Eu, por exemplo, sempre me lembro dos meus pais, Gastão e Margarida, que adoravam celebrar essa festa cristã.
Na minha infância, o peru que servia na ceia de Natal era preparado com muito cuidado. Meu pai era responsável por isso. Ele comprava o animal na feira e o mantinha em casa por cerca de 15 dias para engordar. Lembro-me bem dele costurando o papo do peru, enquanto Joça, uma mulher muito querida por nossa família, o observava de perto. Joça, conhecida como Boca Mole, usava óculos grandes e tinha uma personalidade forte, sempre se fazendo ouvir.
Ela era como uma segunda mãe para mim e para meus irmãos. Vinda do bairro São Braz, Joça ajudava minha mãe na preparação das refeições. Uma parte importante da ceia eram as galinhas, que ela mesma matava com muita dificuldade. Apesar de sua força, essa cena sempre a emocionava, pois ela se preocupava com cada vida que se ia.
O Natal também era marcado pela paçoca, um prato feito por meu pai com cebola e farinha, que todos nós devorávamos à mesa. Embora o Sertão fosse um lugar marcado pela seca e pela luta diária, éramos gratos pelo que tínhamos. A realidade da fome no Sertão é um reflexo das dificuldades enfrentadas pela população, que vive com a esperança de um futuro melhor e precisa lidar com a falta de assistência.
Embora os desafios sejam imensos, meu pai sempre trazia a sabedoria dos clássicos sertanejos. Através de suas leituras, aprendi que o Sertão é um lugar onde os pensamentos se fortalecem, mesmo em meio à dor. Joça também sofria as consequências da seca. Ela teve muitos filhos, mas perdeu vários deles devido a doenças que atingiam as crianças mais vulneráveis.
Na véspera de Natal, nossa família se reunia em torno da mesa. Com nove filhos e muitos agregados, era uma noite de reflexões. Meu pai, que sempre valorizou a importância da saúde e da gratidão, fazia um discurso emocionado, agradecendo pela comida e desejando saúde a todos. Ele via a vida com otimismo e sempre dizia que, com saúde, conseguiríamos superar os desafios.
Mamãe, por sua vez, trazia alegria para a mesa. Ela costumava oferecer vinho a todos, criando um ambiente de felicidade. Essas memórias são doces e sempre me fazem refletir sobre o verdadeiro significado do Natal. A simplicidade e a esperança refletem a força da vida no Sertão, que sempre encontra maneiras de florescer.
O mais importante do Natal, independentemente do lugar, não são os presentes, mas a presença e o amor compartilhados entre as pessoas. Assim, desejo a todos um Feliz Natal, repleto de amor e fé. Que a mensagem de esperança e alegria do Natal esteja presente na vida de cada um de nós.