História do Lago Artificial em Sobradinho e sua Importância para a Energia no Nordeste
A canção “Paulo Afonso”, lançada em 1955 por Luiz Gonzaga, celebra uma obra de engenharia que transformou a geração de energia no Nordeste brasileiro. A música menciona a colaboração de diversos atores na criação do sistema hidrelétrico, mas não prevê que, décadas depois, o sertão receberia um lago artificial que revolucionaria essa produção de energia em uma região frequentemente atingida pela seca.
As obras da represa de Sobradinho, na Bahia, começaram em junho de 1973. O lago, que se formou a partir da represagem das águas do rio São Francisco, ocupa uma área de 4,2 mil quilômetros quadrados, tornando-se o maior lago artificial do país. Sobradinho é uma parte vital do sistema elétrico administrado pela Eletrobras Chesf, que também inclui usinas como Paulo Afonso I, II, III e IV, e Xingó. Juntas, essas usinas têm uma capacidade total instalada de 10.460 Megawatts (MW).
Com a capacidade de geração de 1.050 MW, a represa de Sobradinho, conhecida popularmente como “o mar do sertão”, tem um papel crucial na regulação das usinas ao longo do rio São Francisco. De acordo com o presidente do Instituto Acende Brasil, Cláudio Sales, Sobradinho acumula água durante o período de cheias e a libera gradualmente, o que ajuda a manter a vazão do rio estável. Isso é fundamental para garantir que todas as usinas funcionem perto de sua capacidade máxima e de forma contínua, assegurando a eficiência do sistema energético nordestino.
A construção da barragem implicou a remoção de aproximadamente 70 mil moradores de municípios baianos para permitir o alagamento que formou o lago. A primeira turbina da usina começou a operar em 1979, pouco depois do represamento das águas do rio, que nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais. “Sobradinho não gera água, mas acumula a que vem do curso natural do rio”, destaca Sales.
A represa foi projetada tanto para gerar energia quanto para regular o abastecimento de água, impactando positivamente a agricultura e a navegabilidade no São Francisco. A grande área de evaporação do lago também contribui para a moderação climática, reduzindo a aridez na região. Atualmente, graças à represa, os reservatórios do Nordeste estão operando, em média, com 52% de sua capacidade total, o que traz benefícios para a estabilidade hídrica e energética da região.
Sobradinho, com suas seis turbinas de 50 MW, oferece três tipos principais de benefícios:
- Energéticos: possibilitando a geração de energia local e aumentando a capacidade de usinas subsequentes.
- Irrigação: permitindo o uso da água acumulada para a agricultura.
- Ambientais: contribuindo para o equilíbrio hídrico da região.
A história do aproveitamento das águas do rio São Francisco remonta ao governo de Getúlio Vargas na década de 1940. Cláudio Sales, presidente do Acende Brasil e filho do engenheiro Apolônio Sales, ressalta que o projeto foi idealizado por seu pai. A primeira usina na cachoeira de Paulo Afonso, que gerou eletricidade para teares na região, foi um marco pioneiro da geração de energia no Nordeste.
A construção do lago artificial em Sobradinho representou uma mudança estratégica no planejamento de energia elétrica na região. Enquanto as primeiras usinas operavam sem capacidade de armazenamento prolongado, Sobradinho permitiu a acumulação de água suficiente para garantir a continuidade da geração de energia.
A represa de Sobradinho é, portanto, uma obra fundamental não apenas para a produção de energia, mas também para o desenvolvimento do sertão, oferecendo suporte à agricultura e contribuindo para a regularização das condições do clima local.