No dia 3 de novembro, foi anunciada a nova novela “Nobreza do Amor”, que será exibida na faixa das 18h pela TV Globo. A trama se passará em um país africano fictício chamado Batanga e contará com um elenco principal formado por atriz negras. Erika Januza interpretará a rainha de Batanga, enquanto Duda Santos será a princesa, filha da personagem de Januza.
É importante destacar que Batanga não é um lugar real, semelhante à Wakanda do filme “Pantera Negra”. A criação de um país fictício levanta questões, especialmente porque a equipe de escritores da novela é predominantemente composta por pessoas brancas. Duca Rachid e Júlio Fischer, ambos brancos, estão à frente do roteiro, enquanto Elísio Lopes Jr. é o único escritor negro.
Embora a história se proponha a explorar a ficção, muitos críticos apontam a necessidade de refletir sobre a realidade ao desenvolver narrativas. Por que não criar histórias que se conectem mais a lugares e culturas que realmente existem? Por exemplo, a ideia de uma “República dos Palmares”, que poderia ser explorada com maior profundidade.
A acadêmica Grada Kilomba, em seu livro “Memórias da Plantação”, discute o conceito de “outridade”, referindo-se à maneira como as pessoas negras são frequentemente vistas como o que é diferente ou indesejado pela sociedade branca. Assim, quando uma novela como “Nobreza do Amor” opta por ambientar sua história em um país fictício, pode-se observar um fenômeno de “outridade”. Essa decisão acaba reforçando estereótipos que simplificam a rica diversidade do continente africano, que é composto por 54 países reconhecidos pela ONU e 55 pela União Africana.
Além do mais, a escolha de um cenário fictício pode limitar a exploração de histórias que poderiam ser inspiradas em comunidades reais, como os quilombos, que fazem parte da herança cultural africana presente na população brasileira. Se não for viável desenvolver a novela em um local africano autêntico, existem muitos outros caminhos que poderiam ser traçados para trazer à tona essa rica herança de forma mais realista.
Por fim, é fundamental que todas as vozes na equipe de criação tenham a oportunidade de influenciar as direções das narrativas. A participação de um roteirista negro é valiosa, mas decisões criativas requerem cuidados para que não se ignorem as nuances e complexidades que as histórias envolvem.