Na quarta-feira à noite, a mostrativa competitiva de longas-metragens brasileiros no Festival de Cinema de Gramado apresentou o filme “Sonhar com Leões”, dirigido por Paolo Marinou-Blanco, um cineasta com raízes greco-portuguesas que já residiu no Brasil. A trama aborda temas controversos como a morte assistida e a eutanásia.
A protagonista, interpretada por Denise Fraga, chama-se Gilda. Após receber o diagnóstico de um câncer incurável e saber que sua vida está chegando ao fim, Gilda enfrenta sentimentos intensos, como a raiva por não poder viver conforme costumava. Ela expressa seu desejo de “morrer enquanto eu sou eu”, enfatizando o temor de perder a consciência e a noção de sua própria identidade devido à deterioração da sua saúde.
No início do filme, Gilda é também narradora da história, quebrando a chamada “quarta parede”. Em algumas cenas, ela se volta diretamente para a câmera, criando um diálogo íntimo com o espectador. Gilda tenta o suicídio em várias ocasiões, mas sem sucesso. Desesperada, ela opta por buscar ajuda em uma empresa multinacional que se propõe a auxiliar indivíduos que desejam morrer, mas de uma forma que não infrinja a lei. Durante sua jornada, ela conhece Amadeu, interpretado por João Monteiro, um jovem que compartilha do mesmo desejo, embora o seu sofrimento seja mais emocional do que físico. A conexão entre os dois ajuda-os a enfrentar a difícil situação que vivem.
Uma das palestrantes da “empresa” revela que 85% das pessoas que tentam suicídio não conseguem concluir o ato usando métodos que podem ser facilmente encontrados na Internet, destacando a complexidade desse tema. O filme aborda esta questão sensível com um tom de humor ácido, ao mesmo tempo em que critica uma indústria que, em muitos casos, busca lucrar com o sofrimento das pessoas, sem oferecer soluções reais.
Em uma declaração sobre sua obra, o diretor Paolo Marinou-Blanco afirma que sua intenção nunca foi tratar o assunto de forma desrespeitosa. Para ele, “Sonhar com Leões” não se trata apenas de suicídio, mas sim da vida em si. O longa foi filmado em Portugal e na Espanha e se junta a uma série de recentes produções internacionais que também exploram a escolha sobre o momento da morte para aqueles que enfrentam doenças incuráveis. Entre esses filmes estão “O Quarto ao Lado”, de Pedro Almodóvar, e “Uma Bela Vida”, de Costa Gavras, ambos previstos para estrear em 2024.
Durante a apresentação do filme, o diretor ressaltou que a multiplicidade de obras abordando este assunto indica um amadurecimento do debate. Atualmente, entre mais de 190 países, apenas cerca de 10 ou 11 legalizaram a morte assistida. A estreia de “Sonhar com Leões” nos cinemas está agendada para 11 de setembro.
No mesmo dia, foi exibido no Palácio dos Festivais o primeiro longa da categoria de documentários, intitulado “Para Vigo Me Voy”, que aborda a carreira do cineasta Cacá Diegues. A obra é dirigida por Lírio Ferreira e Karen Harley.