domingo, 07 de dezembro de 2025
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Águas de oásis no sertão mineiro enfrentam risco de colapso

EM 1 DE DEZEMBRO DE 2025, ÀS 03:15

O Ministério Público Federal iniciou uma ação civil pública visando proteger o Parque Nacional Grande Sertão Veredas e o cerrado, que apresentam sinais de degradação ambiental. A iniciativa se baseia em um relatório que destaca a grave escassez de água na região, com redução de até 50% na vazão dos rios e na umidade do solo. Essa situação se agrava devido ao elevado número de outorgas de água para poços tubulares, totalizando 137,41 metros cúbicos por segundo, o que se aproxima de um colapso hídrico.

A crise hídrica abrange não apenas as áreas ao redor do parque, mas todo o cerrado. A Vereda São José, localizada em Três Marias, é um exemplo da degradação. Antigamente, a região abrigava um riacho de quatro quilômetros de extensão, descrito por Guimarães Rosa como “a mais bela”. Atualmente, suas águas estão represadas em um barramento, usado para irrigação de cultivos em pivôs centrais, resultando na inundação de palmeiras de buriti e na falta de água para a vereda durante períodos de estiagem.

Outro ponto crítico destacado na ação é o Córrego do Batistério, em Pirapora, que está seco, com o leito coberto apenas por pedras e poeira. Setenta anos após a publicação da obra de Guimarães Rosa, a escassez de água é visível.

O Ministério Público busca conter o desequilíbrio ambiental causado pela exploração econômica excessiva da região. A demanda se concentra na crescente atividade agrícola de larga escala, que tem levado à destruição da vegetação nativa e ao uso intensivo de água para irrigação. Segundo a Procuradoria, a perda das veredas está diretamente ligada ao desmatamento que tem ocorrido.

A coordenadora das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente em Minas Gerais, Carolina Frare Lameirinha, destacou que as veredas têm sido “invisibilizadas”. Muitas vezes, elas só são reconhecidas legalmente quando um produtor contrata um profissional para atestar sua existência, o que raramente é verificado.

A degradação das áreas de cerrado também afeta a recarga hídrica, tornando os locais desmatados suscetíveis à erosão. Almir Paraca, ambientalista, observou que a água das chuvas leva o solo exposto para dentro de rios e veredas, piorando a situação.

Além dos danos aquáticos, a série de reportagens revelou a poluição dos rios na região, impactando a saúde das pessoas e do meio ambiente. O Rio das Velhas, por exemplo, mostrou um alto índice de contaminação, com 50,8% das amostras de água apresentando violações entre 2019 e 2022. A presença de arsênio é uma preocupação, pois pode causar sérios problemas de saúde, como doenças neurológicas.

Outros fatores impactantes incluem as monoculturas e a queima de carvão, que têm prejudicado os córregos e veredas. A pesquisadora Flávia Galizoni citou um caso em que o Rio dos Cochos foi devastado em uma única noite devido ao desmatamento.

Por fim, surge uma nova ameaça com a expansão de usinas fotovoltaicas, que são consideradas uma pressão recente sobre o cerrado. Peterson Almeida, responsável pelo Parque Nacional Grande Sertão Veredas, alerta que essas instalações podem intensificar o aquecimento e as mudanças climáticas na região já fragilizada.

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