terça-feira, 25 de novembro de 2025
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Do sertão ao faroeste: conquistas e a ausência de vozes

EM 25 DE NOVEMBRO DE 2025, ÀS 00:37

A colonização do Oeste paulista e do Oeste americano apresenta paralelos significativos em suas histórias. Em ambos os casos, as terras consideradas “vazias” foram vistas como oportunidades para expansão, e essa narrativa facilitou a invasão dos territórios de povos originários. O resultado foi semelhante: a expulsão das populações nativas, a alteração dos cursos dos rios, a devastação das florestas e a construção de um imaginário nacional fundamentado na ideia de conquista.

A partir de 1850, o interior de São Paulo começou a passar por um processo que o Império definia como “civilização do sertão.” A extinção das sesmarias e a promulgação da Lei de Terras facilitaram a dominância das áreas. Nesse contexto, ações de grupos armados, a missão de religiosos e o papel de cartórios e grileiros ajudaram a consolidar essa ocupação. Grupos indígenas, como os Botocudos e Caiuás, foram retratados como empecilhos ao progresso, assim como os Sioux e Cheyenne no Oeste americano.

Nos Estados Unidos, a ideia do Destino Manifesto sustentava a crença de um direito divino à exploração e conquista. No entanto, no Brasil, a justificativa era diversa, mas a lógica permanecia a mesma: uma missão civilizatória impulsionada por interesses econômicos, medo e religiosidade. Tanto o Oeste americano quanto o paulista criaram mitos próprios, evocando figuras como o cowboy e o bandeirante, que mascaravam as realidades sombrias da colonização.

A popular série Yellowstone traz à tona esse imaginário, revelando que a fronteira nunca realmente se extinguiu, mas sim se transformou. Atualmente, os conflitos por terras, água e identidade continuam, agora envolvendo empresários, comunidades indígenas e o próprio Estado.

No Oeste paulista, os impactos da colonização são observáveis até hoje. A monocultura tomou o lugar da mata nativa, o agronegócio substituiu comandantes locais, e a ideia de progresso muitas vezes se opõe à realidade vivida pelas comunidades. As feridas históricas ainda estão presentes, com o sertão, agora coberto por asfalto, refletindo um passado que continua a assombrar o presente.

A relação entre o faroeste e o sertão é mais próxima do que pode parecer. Ambos nasceram da crença de que conquistar é sinônimo de existir e ainda buscam, em essência, um caminho para devolver a terra à sua verdadeira origem.

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