São Paulo e Palmeira dos Índios: Conexões entre Dois Mundos
Recentemente, passei alguns dias em São Paulo, uma metrópole vibrante que não para. Fui representar a Tribuna do Sertão em eventos da ANJ e no Google News Summit, um encontro que discute o futuro do jornalismo e a nova realidade da informação. No meio de discussões sobre inteligência artificial e as dificuldades de mostrar notícias em regiões carentes, uma coisa ficou clara para mim: o sertão, mesmo distante, estava presente.
São Paulo é uma cidade que se move em ritmo acelerado. O metrô, as conversas e até a chuva parecem apressadas. Aqui, tudo pede decisões rápidas e ações imediatas. Porém, enquanto eu estou imerso nesse ambiente, meu celular vibra com notícias de Palmeira dos Índios, mostrando um contraste evidente. Mensagens sobre o marco temporal, preocupações de pequenos produtores e problemas com obras paradas me lembram que nem todas as partes do país têm a mesma agilidade.
É como viver em dois mundos distintos. Enquanto São Paulo avança rapidamente, Palmeira dos Índios, minha cidade natal, ainda espera por soluções que não chegam. Este contraste se intensificou quando comecei a ouvir especialistas em tecnologia falarem sobre “soluções escaláveis” e “automação de conteúdo”. Para mim, o que realmente precisa ser escalável são os direitos básicos da população, como justiça e informação.
No meio de palestras e discussões, observei jornalistas de várias partes do país, universitários e empreendedores. Em um ambiente tão cosmopolita, percebi que nosso projeto, Mandacaru Digital, que visa levar informações a áreas sem acesso a notícias, ressoava ali. A plateia ouvia atentamente, e de repente, um pedaço do sertão estava sendo respeitado.
Durante minha estadia, o silêncio da cidade grande à noite era interrompido pelas notificações do meu celular. As mensagens chegavam com atualizações sobre o que estava acontecendo em Palmeira: vídeos, declarações do prefeito, discussões entre vereadores e convocações para reuniões. Mesmo à noite, em um ambiente tão diferente, meu coração ainda estava com minha cidade natal. Essa dualidade de ser um jornalista em um evento de tecnologia e, ao mesmo tempo, um sertanejo preocupado com os problemas da sua terra, me fez refletir sobre meu papel.
As discussões no summit reforçaram a importância do nosso trabalho. Quando falavam sobre regiões esquecidas pela imprensa, lembrei das 49 cidades de Alagoas que não têm um jornal local, onde a voz das comunidades fica silenciada. A missão da Tribuna do Sertão é justamente dar voz a essas pessoas.
São Paulo mostrou-se generosa, oferecendo novas ideias e possibilidades. Mas, ao mesmo tempo, Palmeira dos Índios insistiu em me lembrar das suas urgências e desafios. Essa experiência me fez compreender que meu papel é ser uma ponte: conectar o que aprendo em São Paulo com as necessidades de Palmeira.
Acredito que essa é a verdadeira missão de quem escreve: levar as histórias do sertão para onde o futuro está se dirigindo, e trazer de volta ferramentas que ajudem a iluminar as estradas de casa. O sertão, mesmo distante, sempre acaba brilhando em São Paulo. E quando isso acontece, é para beneficiar a vida na cidade que me acolheu e que eu nunca deixei de amar.