segunda-feira, 15 de dezembro de 2025
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Cães de guarda da ditadura atacam no sertão da Bahia

EM 15 DE DEZEMBRO DE 2025, ÀS 07:39

A ditadura militar brasileira teve seu fim oficial em 1º de março de 1985, na posse do primeiro presidente civil eleito indiretamente desde o golpe de 1964. No entanto, a desarticulação da repressão estatal começou cerca de dez anos antes, pelo menos em termos de discurso. Durante esse período, surgiu um forte clamor da sociedade contra a violência institucionalizada que caracterizava o regime. O general Ernesto Geisel, que assumiu a presidência em 15 de março de 1974, tentou responder a essa demanda com um projeto de “distensão gradual”, mas a maquinaria de repressão continuou a agir nos bastidores, levando à morte de muitos opositores.

Em 1978, a revogação do Ato Institucional nº 5 (AI-5) marcou oficialmente o fim da censura prévia na imprensa. Embora já existissem vozes críticas no jornalismo, com o AI-5 abolido, temas mais delicados começaram a aparecer nas páginas dos jornais. A imprensa alternativa, que floresceu nesse período, foi crucial para dar voz a quem havia sido silenciado nos anos de repressão.

O regime militar, que torturou, matou e desapareceu com milhares de brasileiros, rotulava seus opositores como subversivos, comunistas ou terroristas. A mídia, muitas vezes sob pressão dos militares, reportava cassações de direitos políticos e prisões arbitrárias. Com o fim da censura, havia a necessidade de recontar a história daqueles anos sombrios.

No período entre a revogação do AI-5 e a conclusão da ditadura, a maioria da mídia ainda se alinhava à narrativa oficial. Porém, o mercado editorial se tornou um espaço de resistência. Livros sobre a ditadura rapidamente ganharam popularidade, com algumas obras se destacando. Entre elas, “Os Carbonários”, de Alfredo Sirkis, e “O Que É Isso, Companheiro?”, de Fernando Gabeira, que exploraram a história de militantes que optaram pela luta armada.

Outro livro importante foi “Lamarca, o Capitão da Guerrilha”, publicado em setembro de 1980, de autoria de Emiliano José e Oldack Miranda. Ele retratou a trajetória de Carlos Lamarca, um capitão do Exército que desertou para liderar um movimento guerrilheiro. Antes visto como um terrorista, sua história começou a ser recontada sob uma nova luz após a queda do AI-5. Lamarca foi morto na “Operação Pajuçara”, em setembro de 1971, uma batida policial no sertão baiano que resultou na execução dele e de outros companheiros.

As vítimas da operação, como José Campos Barreto, conhecido como Zequinha, também eram figuras proeminentes nas lutas contra a ditadura. Ele liderou importantes protestos em Osasco e, após detenção e tortura, se tornou guerrilheiro. Zequinha e sua trajetória são frequentemente estudados por seu papel na resistência contra o regime militar.

O relato sobre Lamarca e os eventos em Brotas de Macaúbas se aprofunda na brutalidade que caracterizou a Operação Pajuçara. Detalhes sobre a caçada a Lamarca revelaram o empenho dos militares em capturá-lo, custe o que custasse. Estima-se que mais de cem homens foram mobilizados para essa operação.

Lamarca e Zequinha foram cercados em uma área isolada, e essa ação culminou em suas mortes, após uma intensa perseguição. A cobertura da imprensa logo após os eventos tratou os mortos como terroristas, um esforço consciente para controlar a narrativa sobre a resistência. As histórias retiradas dos dois lados têm sido alvo de estudos e publicações ao longo dos anos, e novas reedições de livros como o de Emiliano e Oldack vieram a público com correções e mais informações sobre os períodos sombrios da ditadura.

No campo cultural, o livro e suas adaptações cinematográficas ajudaram a recontar a história, trazendo à tona discussões sobre resistência e os custos humanos da luta armada. As reedições dos livros também abriram discussões acadêmicas que conectam o passado ao presente, permitindo uma reflexão mais crítica sobre a ditadura e suas consequências.

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