No Sertão paraibano, onde a imagem do sol foi tradicionalmente ligada ao sofrimento e à escassez, um projeto tem transformado essa visão. Em Poço de José de Moura e Poço Dantas, agricultores e jovens estão se beneficiando do projeto Comunidades Solares, desenvolvido pela ONG Pisada do Sertão.
O agricultor Elidon Silva, da comunidade de Lages, em Poço Dantas, é um dos beneficiados. Ele conseguiu reduzir em 80% seus gastos com energia ao adotar a tecnologia solar em suas atividades. Para o coordenador do projeto, Pedro Alves, essa mudança de perspectiva é significativa, pois o sol está sendo visto não mais como um adversário, mas como uma fonte de energia.
O projeto atua em duas frentes principais. Para 60 famílias de agricultores, são oferecidos cursos focados em agroecologia e liderança comunitária. Os temas abordados incluem o manejo eficaz do solo, a produção sustentável e a convivência com o semiárido. Além disso, cerca de 80 adolescentes, com idades entre 14 e 17 anos, participam de um curso sobre energias renováveis, que combina teoria com práticas como robótica e experimentação científica. Pedro explica que esses jovens aprendem sobre o funcionamento da energia solar e como essa tecnologia pode se tornar uma oportunidade de emprego no futuro.
Os impactos do projeto já são visíveis nas comunidades. Agricultores estão adotando práticas sem o uso de agroquímicos, criando hortas mais saudáveis e trocando conhecimentos entre si. O sentimento de pertencimento e colaboração tem crescido, com as famílias se apoiando mutuamente e valorizando suas produções. Nos últimos três meses, o projeto também resultou no plantio de 170 árvores, o que destaca o engajamento comunitário.
Elidon Silva compartilha que os encontros promovidos pelo projeto o ajudaram a aprimorar suas técnicas de cultivo, incluindo compostagem e manejo de pragas. Ele menciona que agora pode produzir alimentos mais saudáveis, como hortaliças, e que a energia solar facilitou a irrigação das hortas sem aumentar muito seus custos. Além disso, Elidon começou a criar abelhas sem ferrão, o que não apenas ajuda na polinização, mas também contribui para a produção de mel.
A experiência positiva é compartilhada por outros agricultores, como Eliane, que expressa seu orgulho em cultivar a terra, afirmando que é um espaço fértil onde até arroz pode ser plantado. Essa fala reflete a valorização do território e a segurança alimentar que o projeto vem ajudando a promover.
As iniciativas contam com o apoio das prefeituras locais e de instituições de ensino, que são fundamentais para o sucesso do projeto. No entanto, Pedro destaca que ainda existem desafios, como a resistência a práticas de agricultura sustentável, além da necessidade de investimentos financeiros. Ele observa que a agroecologia exige tempo e prática para mostrar resultados.
Outro ponto importante é a receptividade dos jovens ao tema da sustentabilidade, especialmente quando veem resultados concretos nas comunidades. Contudo, fatores como remuneração baixa e a falta de opções culturais ainda dificultam a permanência dos jovens no campo. Pedro enfatiza a importância de fortalecer a agricultura familiar para que eles tenham mais oportunidades.
Por fim, o projeto Comunidades Solares está contribuindo para mudar a percepção dos sertanejos sobre o Sertão, que passa a ser visto como um espaço com potencial para energias renováveis e não apenas como um lugar de dificuldades. Para Pedro, essa transformação é um passo importante na construção da identidade e autoestima das comunidades, e participar do projeto representa um retorno significativo à sua terra natal. Ele acredita que reinterpretar o sol como fonte de vida e oportunidades marca uma nova fase para a região.